Se não te faz falta o nosso abraço?
Se também procuras o aconchego do teu corpo, como o meu coração procura o teu...
(Quem me dera que não doesse assim tanto o teu vazio que me envolve.)
O nosso caminho está povoado por eles… pelos nossos demónios… aqueles que nos atormentam, e que no silêncio e no vazio ganham o espaço como se lhes pertencessemos…
Sussurram as nossas angústias impedindo que as esqueçamos… alimentam-se do que o passado nos trouxe e também do que nos roubou…
Pesam na nossa existência… mas, infelizmente, não como aquele cobertor pesado que no frio do inverno nos faz sentir o aconchego de uns braços que não existem…
E às vezes quase ouvirmos a suas gargalhadas quando conseguem sentir que o ar nos escapa do corpo e são tão poucas as forças que nos restam para ir à superfície ganhar fôlego…
Sendo que de pouco serve os ignorarmos… fingir que não existem não os faz desaparecer… permanecem a caminhar ao nosso lado, esperando apenas uma oportunidade… uma fragilidade…
Quem dera poder me rir com eles… me rir deles…. Rir com eles de mim… E com todas essas gargalhadas encher de ar o vazio que me rodeia e me sufoca…
Quem dera sentir liberdade para respirar… ao invés deste peso que trago em mim…
Aqui sentada deixo os meus olhos e a mente vaguearem pelo passado…
Tinha tantas certezas do que nunca iria acontecer, estava tão focada em mim…
Deixei de acreditar que tinha direito a ser feliz… a amar…
E depois o impensável aconteceu…
Quantas vezes me deixo maravilhar pela doçura de a sentir tranquila a dormir junto a mim…
A cada uma delas é como se o meu coração se deixasse convencer mais um bocadinho de que ela realmente é real… que esta menina linda com este sorriso tão precioso vai estar sempre ao meu lado…
Como posso acreditar que tive a sorte de ter este amor na minha vida…
Ela é tudo e irei sempre sentir o deslumbramento de ter consciência que é parte de mim… que é minha…
E a ti, vou calando as palavras, o desejo que a conheças, que te deixes encantar, que a deixes te amar…
Nunca enfrentaremos maior desafio do que aquele que sossegar a dor que nos dilacera a alma exige de nós…
Daqueles que nos envolvem....
Dos que tentamos controlar....
Daqueles que parecem sufocar o que o universo nos vai dizendo... Sussurrando... Gritando....
Quão cegos poderemos ser ao que o universo nos tenta dizer?
Daquilo que queremos fazer acontecer e da distância (às vezes abismal) ao que é suposto ser...
Daqueles que estão rodeados de tantos sons que julgamos que deixam de o ser...
E que ainda assim são perfeitos por tudo o que podem conter...
Imensos.... Infinitos... Ínfimos...
Com o tamanho certo que precisam de ter!
Com tudo que nos podem trazer! Com tudo o que precisamos que possam conter!