sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Insensível

Á força de nos últimos tempos tantas vezes, num tom pseudo-irónico, ser apelidada de cabra insensível, dou por mim a questionar a origem da tamanha frieza....
E nos meandros da suposta insensibilidade, os meus olhos procuram os gestos que transportam aos outros a imagem de um ser gélido e incapaz de sentir....
Será pelo silêncio com que assumo que não tenho resposta para a cruel e inevitável agonia que me rodeia?
Serei insensível por ter aprendido a aceitar a morte como parte da vida, e por tentar sobreviver á dor de não ter ao meu lado aqueles que amo?
E será que por serem as lágrimas a quimera dos meus olhos, que a minha dor será menor?
Ainda que em alguns momentos eu lamente que apenas consigam ver as águas superficialmente calmas e instransponivelmente escuras deste meu mar, nos outros aceito que nas impenetráveis profundezas da minha alma existe alguém que sobreviva á dor, e que na sua preserverança vai aprendendo a caminhar entre os outros...
Enquanto aos olhos dos outros existe apenas a pretensa serenidade, a minha alma degladia-se por sobreviver mais um dia. E, no momento em que recuso entregar o meu futuro ao sofrimento do passado, a percepção dos outros dilui-se na concepção errada da cabra insensível que eles criaram...
Por não pretender ser igual ao que esperam de mim, aceito o sorriso timido, mas sincero daquela criança que aceita apenas aquilo que lhe posso dar...
E neste coração, que contraria a frieza e pretensa serenidade com que me envolvo, reside a essência de quem sou, insensível... ou talvez não....
8 de Agosto de 2008

1 comentário:

spritof disse...

Compreendo-te!
Não estás só!