terça-feira, 9 de setembro de 2008

Pais ou filhos...

Num momento em que todos em meu redor parecem ter embarcado na aventura da paternidade, dou por mim a pensar no que é efectivamente ser-se pai... da desmedida responsabilidade de unicamente trazer alguém ao mundo e ainda de preparar essa pessoa para o mundo...
Diz quem me conhece que eu sou demasiado austera com as crianças, que sou demasiado inflexível, e por isso é posta em causa a minha potencial capacidade de ser mãe....
Mas ainda que desprovidade de experiência, e por isso de alguma forma sem direito a opinar sobre essa aventura, existem algumas coisas que não consigo compreender... Ou melhor, algumas coisas que vejo e me fazem um certo prurido cognitivo...
Naturalmente a personalidade dos pais vai moldar os adultos em que as criançam se vão tornar, mas não será irresponsabilidade paternal permitir que aquilo que são condene as crianças a serem aquilo que eles desejam....
No fundo, os filhos serão sempre e nunca serão verdadeiramente dos pais... não é justo que os filhos vivam das expectativas e sonhos dos pais... não é correcto que o mundo dos filhos apenas exista nos limites dos pais...
Ser-se pai, será provavelmente a mais sublime forma de amar, mas se o amor vive da capacidade de viver a liberdade de alguém, amar um filho implica necessariamente um enorme esforço para conviver com aquilo que é nosso e nunca o será...
Mas será que conseguimos ser como as aves dão tudo de si aos pequeninos que nascem no seu ninho e no fim ensinam-nos a voar???

2 comentários:

Anónimo disse...

É interessante este texto, aliás como todos os que conheço teus, são textos que me parecem espôntâneos e como tal saiem pouco ou nada filtrados, são uma peça de artesão sem polimento.É verdade que me faz espécie o que achas que outros pensam de ti ou o que tens a certeza que pensam, pq embora conhecendo-te de uma forma limitada não te acho nada assim, acho-te sensata, inteligente e cheia de poesia.
Concordo contigo no essencial, há que dar afectos, há que repreender e por vezes ser inflexivel, há que acompanhar e saber acompanhar de uma forma inteligente para não castrar a liberdade, há que transmitir valores fundamentais, no fundo há que ensinar a voar, a pescar etc.
No fundo há que fazer com que adquiram os instrumentos para viverem o melhor possivel à sua maneira, mas há uma coisa que para mim tb é certa, não somos de ninguém.

Paulo Lontro disse...

BRAZELTON, um famoso pediatra escreveu:
A pior coisa que pode acontecer a uma criança é crescer sem amor, a 2ª pior é crescer sem disciplina.

Eu acrescento, uma criança nunca tem mimo a mais, pode é ter disciplina a menos.

O equivoco que vejo neste texto é o facto de generalizares sobre o potencial domínio que pensas que um Pai e uma Mãe "normais" têm sobre um filho a ponto de escreveres " ... condene as crianças a serem aquilo que eles desejam....".
A minha realidade da sociedade não vê este cenário. Eu vejo a maioria dos pais modernos a fazerem o possível e tantas vezes o impossível para darem instrumentos aos filhotes para estes um dia "saírem do ninho" e voarem alto seguindo o seu caminho.

Concordo contigo, com um aperto no coração, dou amor a alguém que é meu e nunca será meu.

Quanto aos teus amigos que te acham demasiado austera com as crianças e que és demasiado inflexível, pedem ter toda a razão mas perdem-na no exacto momento em que tomam a liberdade de te designar como potencial possuidora ou não de capacidades para ser Mãe.
Todos temos na vida telhados de vidro mas muitos têm total incapacidade de os ver .
Não há nesta felicidade que é ter um filho formulas mágicas, livros de instruções ou regras predefinidas, a vida de um nosso filho segue o seu caminho tão naturalmente como a nossa vida, tão simples ou tão complexo como isto …