sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Recordações...

Foi numa troca de ideias em que dei a minha opinião sobre esse tão maravilhoso e singularmente especial dom que é a nossa memória que me ficou uma questão....
Sendo a nossa memória um tão infindável local de armazenamento de momentos do passado, qual é o processo que define quais são aqueles que são passíveis de seres lá guardados, e quais são aqueles que não merecem ocupar um espaço nesse local tão especial.....
A verdade é que as recordações do passado são algo tão perfeitamente indomável que é extremamente dificil conseguir definir um momento preciso em que elas deverão reaparecer na nossa vida para se tornarem úteis, mas ainda assim será que apesar de tudo isso elas existem da mesma forma indomável com que nos assaltam, às vezes até nos momentos mais imprevistos e indesejáveis...
O nosso subsconsciente é um universo quase tão infinito e desconhecido como aquele em que nós, pequeninos, vivemos, mas ainda assim algo me diz que é nele que se processa o tal processo de selecção do qual surgem as nossas recordações....
Argumentava o meu interlocutor que não há escolha nas recordações, mas será que não existe mesmo?
Então quem me explica que eu me lembre perfeitamente de andar orgulhosamente ao lado do meu avô na carroça do seu adorado burrito, e não tenho uma única recordação dos meses que ele passou na cama antes de falecer?
Será que essa pessoa me conseguirá também explicar como povoam a minha infância memórias doces e felizes ao invés das lágrimas? Porque é que me lembro do sabor delicioso da fruta acabadinha de apanhar que era comida sentada na arvore e não me lembro de cair da árvore ou sequer das esfoladelas que esse pequeno prazer me trouxe?
Talvez a explicação seja tão simples que se torna desnecessária, mas ainda assim acredito que escolhemos as nossas recordações!!!!
Senão porque me iria lembrar daquele maravilhoso céu azul das quase infinitas caminhadas em Londres e preferir me lembrar do frio quase surreal que se fazia sentir?......
Talvez a nossa memória seja um oceano de memória que preferimos que venha banhar a praia em que nos estendemos ao sol no presente, trazendo consigo a doce maresia das recordações felizes que o nosso subsconciente condescedente preferiu guardar.....
Claro que não sou tão ingénua ao ponto de acreditar que a nossa memória só serve de abrigo a recordações agradáveis e felizes, porque se os momentos menos bons existem é perfeitamente normal que também existem recordações menos doces, mas ainda assim é curioso observar a forma como optamos por guardar os fragmentos da nossa vida em que fomos felizes como que se numa selecção perfeitamente natural na memória que queremos contruir de um passado nem sempre tão feliz como o lembramos....
Sim, há escolha para as recordações, nós só não queremos admitir que a fazemos....

5 comentários:

Anónimo disse...

eu sou exactamente assim e penso exactamente o mesmo...
nunca guardo as más recordações.
chega a ser doentio pq às vezes esqueço por completo actos desagradáveis que algumas pessoas têm para comigo e têm que ser terceiros a dizer-me "mas olha lá, tas parva??? entao nao te lembras que a gaja te fez isto assim e assado a agora vais dar-lhe boleia?"...ao que eu respondo, invariavelmente: olha...já nem me lembrava.
escolhemos as recordações, é 1 forma que temos de permanecermos felizes...
eu acho mesmo que é quase a chave da felicidade na medida em que voltamos a ser, de certo modo, inocentes em relação a algumas coisas/pessoas.
e se isso é mau por baixarmos as defesas e corrermos o risco de cair outra vez da árvore, tem a grande vantagem de nos fazer acreditar que o mundo é um lugar bom para se estar!

spritof disse...

ou seja, é possivel voltar a ser-se inocente, como as crianças o são?

TM disse...

Pessoalmente acho que nem que o tempo voltasse para trás recuperaríamos a nossa inocência... mas é necessária uma inocência diferente, e talvez até mais especial, para continuar a acreditar...

spritof disse...

uma inocência consciente do mundo!

Anónimo disse...

menos pura...
mas com mais vontade de o ser